Dos 3,1 bilhões de reais previstos, apenas 738 milhões foram utilizados. Para especialista, burocracia e má vontade política contribuem para o quadro
Comissão
dos Direitos Humanos dos Policiais de São Paulo, profissionais de
segurança pública e familiares de policiais militares mortos se reuniram
em ato ecumênico no vão livre do MASP, em 2012 (Marlene
Bergamo/Folhapress)
A
criminalidade é um dos temas que mais afligem o brasileiro. E é fácil
entender por que: o país registra estatísticas de homicídios comparáveis
a nações em guerra, a violência se espalha entre jovens e pelo interior
do território. O governo federal acaba por manter certa distância do
tema, uma vez que, por determinação constitucional, o controle das
polícias militar e civil fica a cargo dos estados. Levantamento da ONG
Contas Abertas revela, porém, que nem mesmo nas áreas em que é obrigada a
atuar, a União faz sua parte como deveria. Dos 3,1 bilhões de reais
previstos em orçamento para a segurança pública em 2012, 1,5 bilhão
sequer foi empenhado. O governo aplicou apenas 738 milhões de reais –
23,8% do total.
O
total desembolsado pelo governo para aquisição de veículos e
equipamentos, além da melhoria da infraestrutura de presídios e
departamentos de polícia, foi maior do que o registrado em 2010 e 2011,
mas muito aquém, por exemplo da cifra gasta em 2007: 1,2 bilhão de
reais.
Para
Antônio Flávio Testa, cientista político especializado em
criminalidade, as dificuldades federais em aplicar os recursos estão
muito ligadas ao excesso de burocracia, à inoperância sistêmica dos
diversos órgãos do governo e ao descompromisso com resultados nas
chamadas áreas meio do governo. “Não há coordenação, nem cobrança
efetiva de resultados. É preciso modernizar o processo administrativo.
Se o governo quiser, de fato, agilizar a solução dos problemas de
segurança pública, precisa pressionar, com muita ênfase, o Congresso,
pois é preciso rever atribuições da União, dos estados e municípios”,
explica.
Na
opinião do cientista político, o Ministério da Justiça, o Tribunal de
Contas da União e a Controladoria-Geral da União, poderiam ter uma
postura mais ativa, fiscalizando e assumindo um modelo de gestão em que
atuassem preventivamente, e não apenas após as ações. “Seguramente
muitos equívocos, desvios e outros malefícios gerenciais seriam
evitados. Isso não ocorre porque não há vontade política, nem do
Executivo, nem do Judiciário e, principalmente, do Legislativo. O
resultado é a ineficiência gerencial, o crescimento da violência e a
insatisfação popular”, conclui.
O
levantamento do Contas Abertas levou em conta gastos com Polícia
Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Fundo Penitenciário
Nacional (Funpen), Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) , o Fundo
de Aparelhamento da PF e o Ministério da Justiça (MJ). A maior parcela
foi investida pelo FNSP: 324,5 milhões de reais. Os recursos foram
destinados ao Sistema Único de Segurança Pública (Susp), criado para
articular as ações federais, estaduais e municipais na área da segurança
pública e da Justiça Criminal (130,7 milhões de reais), e às ações do
programa Segurança Pública e Cidadania (193,8 milhões de reais).
Fonte:http://veja.abril.com.br
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